Lado esquerdo

Estava eu e a minha sombra
sentadas à mesa onde perdemos
as oportunidades
por nos termos embriagado

e reparámos na nossa banalidade
e pela primeira vez não nos rimos.

Focámos o casal aproxiamando-se
ao nosso lado
convidámos-lhe as penumbras
a beber dos nossos copos, recordo
isto e comovo-me e quase esqueço

a dualidade de redigir sombra
a vulgaridade dos copos
ou talvez deva dizer:
a vulgaridade de redigir sombra
a dualidade dos copos

ou talvez deva dizer
pela primeira vez: ainda.

2 comentários:

Adriane B. disse...

tão bom te ler. vim te lembrar que gosto tanto das tuas imagens-legendas de verbos. me faz falta ver um verbo iniciando, ainda "surpresa do oxigênio", quando a gente nem tinha nascido. e é calmo ver terminar o verbo. tão bom de ver.

Ana Jerónimo disse...

Talvez haja, então, algum sentido em dizer: ainda. Ainda há acção nos verbos, mesmo que congelados numa imagem. Ainda há algum alento no caminho desde o primeiro ao último berro do oxigénio; este talvez pareça mais rumor que berro, tão longe terá ficado a surpresa do primeiro. Haja tempo (palavra chata). Haja movimento ou haja ver, tão-só. Gosto de te saber por aqui, Adriane. Obrigada.