ipsis verbis

morre entrevado
e com uma solidão:
eis a derrota
que não concebe
perdoar ao corpo

venha a laje
desça a manta
redija-se a terra

(como se escreve
uma flor?)

Invernia

Falavas-me de coisas fundamentais
das que mudam aquilo
a que comummente se chama vida
e eu cometi uma traição - a pior de todas.
Eu: faca nas minhas costas, que mal lhes chego
para me coçar das impurezas, que quase
as esqueço na dilatação dos banhos.
Falavas-me de coisas fundamentais
das que mudam aquilo
a que comummente se chama vida
e eu a cravar-me de maneira convincente
de um jeito tão certeiro  - inabitual.

Murmuravas verbalizavas evidenciavas
e os meus olhos todos inverno pluvioso
foleiríssimos e quase escorredoiros
dois  invernos como os dos anos oitenta
quando o aquecimento global era uma máquina
cara com que se adornava a casa depois
de rachadas as paredes.
Não sei se foi nos anos oitenta, digo oitenta
porque são os anos da placenta
porque tenho de dizer: rachadas.

Eu pela faca, tu pelas coisas que desenraizavas.
Arremessaste uma pergunta acerca de coisas
fundamentais, das que mudam aquilo
a que comummente se chama vida
e eu não soube responder-te
nem ajudar-te a perguntar
porque estava ocupada
a fazer com que não me achasses

a frieza.

Standard

Um figo apodrece como os outros
sei disso e sondo-lhe os destroços
(oferendas inequívocas para
minha contemplação).

Um figo comigo no chão
bolorece como os outros
como os outros figos
como os outros outros.

Locomotivas vãs a caminho
das fronteiras - finas
pernas de flamingo
claves de sol posto

em migração.