Agora


Há um martelo de enigmas,
um martelo louco batendo nos nervos,
esmagando as fibras,
há um estrondo subterrâneo que sobe para as
fontes,
mas não explode,
não explode esta cabeça vencida, caída sobre
a mesa,
sobre a toalha bordada entre o jejum e as
missas, nas terras do pai.

Há um globo de magias em desuso que não
perturba quem chega, quem se senta,
com as mãos abertas, com a faca atrás,
pelo lado das costas que lançam nas paredes
um vulto sinistro, em silêncio, à espera.

Eu sei por que veio, o que quer, o que faz aqui,
mas tu ergues os cálices,
tu olhas para ela e ofereces uma rosa e
repartes o pão,
e depois adormeces e entras no túnel que dá
para as colinas de Deus,
para os seus mortos antigos.


José Agostinho Baptista
in Agora e na Hora da nossa Morte, Assírio&Alvim, Lisboa, 1998

Sem comentários: