Querem o céu

Querem o céu, a mística mansão
Da alma.
E, se estivessem lá,
Queriam a terra, a sórdida morada
Da raiz.
Mas é o céu que lhes diz
Eternidade,
Verdade,
Santidade
E descanso.

Assim se pode mistificar
A preguiça,
O pecado,
A mentira
E a transitória vida natural.

O grande tecto azul, porém, não dá sinal
De acolher o aceno.
Afaga as nuvens, e da luz solar
Faz o dia maior ou mais pequeno.


Miguel Torga Cântico do Homem, Coimbra Editora, 1950

2 comentários:

bruno vilar disse...

Do outro lado das aparências, a inteligência, a indiferença.

Ana Jerónimo disse...

Do outro lado. Mesmo. Está bem visto, Bruno.