Travessão

– Para que usas luvas?

– Para esconder a gratidão das mãos.

– O que te incomoda na visão do agradecimento?

– Não adianta saber-me bravo neste sótão amplificado.

– Não estás a responder-me.

– Estou. Não vês?

– Isto é só um recanto no canto da tua virilidade.

– Mas este espaço aumenta todos os dias.

– É o eco?

– Sim.

– Estás arrependido?

– O eco clarifica o oco do meu vigor. Sim, arrependo-me.

– E a naturalidade?

– Mijei-a contra essa parede atrás de ti. Como chegaste até aqui?

– Foram as sombras; guiaram-me.

– Não tens medo?

– Não. Elas é que têm. Receiam que me perca; se isso acontecer ficam sem morada.

– E tu sem companhia.

– Sim.

– E agora, já te respondi?

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