Leveza – espaço para crescer de braços

Deter da margem o afogamento das raízes
e na retina toda a água ser a temperatura
da chuva e nos músculos toda a força
ser a firmeza da árvore e no estômago
toda a vitória ser um fruto maduro
e não ser isto mais que o escoamento
de um homem tolhendo da ilusão
a leveza – espaço para crescer de braços.

E não ser isto mais que a precipitação
de um homem que num ciclo vê um cerco
e não ser isto mais que o avesso do fenómeno
que é um homem – espaço para crescer.

ovação íntima ou queda de cabelo

um banjo e um outono
um jazz e mar e meio
acordeões latins balcãs
e europas afins ou um feixe
de polaróides quase carecas

(o palhaço descansa
no lume do espelho)

O lugar de envelhecer a luz

O lugar de envelhecer a luz
é táctil, é um funcionário
da meritocracia sentimental.

Nas dactilografias isentas
após o ponto picado
triturado seminu

(tudo isto é acção consumada)

o manga-de-alpaca constrói-se
quando se adia, quando troca
as letras e tipografa:
Aida, amor.

(tudo isto é acção inventada)

O lugar de envelhecer a luz
é frágil, é.

Para sempre

Encolhido como nunca mais
fosse acontecer dia de frio
como nunca mais búzio enredado
em estoma de onda lhe fosse boquear
(Sobrevivência, sorte. Escolhe.)
põe-se vento a ganir com mais força
põe-se osso a sacar desculpas
(Horizonte, abismo. Escolhe.)

O mar é um clandestino em fuga.

seis olhos de ver

Zumbido

A rouquidão dos amantes – dois

insectos

em volta de um candeeiro.

Digamo-nos coisas acerca da marcha e de sua mira

Os pés para cinco dias da semana
e o chão e o arco velho das costas
rechinando calendários
como quem manca por pedra
no sapato e dá estranheza
a quem a queira entrouxar.

Os olhos - os mais deslumbrantes
orifícios - para os fins de semana
e outros, que desfechos os haverá
incessantemente para o bem de todos
os buracos do planeta.

As mãos para as fendas dos tempos
desta e daquela e da outra vida
e todas numa – a que marcha a cavalo

do acasalamento dos sentidos.